Friday, February 09, 2007

Indignação

Eu entendo!
É sempre a palavra de ordem, eu entendo que tudo tem seu tempo e seu lugar. A parte difícil é saber que tenho que esperar.
- Sua vez chegará! – ouço isso desde muito criança e vai ser sempre assim.
Quando falo que entendo em certas horas isso é verdade, em outras é à força do hábito.
Mas fazer o quê?
A vida é uma só, um rascunho sem direito a passar a limpo, li isso é algum lugar e percebo mais do que nunca a verdade inserida nesta frase. Realidade pura, realidade tão dura e tão rápida. Porque será que hoje vejo que um dia a mais é também um dia a menos. O que foi feito hoje pode ser repetido amanhã, mas nunca da mesma forma.
Quisera eu ser um dos titãs gregos que cultivava suas alegrias e aos causadores de suas mazelas vingava-se de forma prazerosa. Deuses tão humanos!
Será que sempre vou ter que entender?
Será que sempre vou ter que esperar?
“Ou quem sabe faz à hora não espera acontecer...”
Blefe puro!

Gosto de tudo que seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.”
Fernando Pessoa

Conversas não foram suficientes pra suprir sua curiosidade, não bastava às palavras escritas na tela, precisava da presença física pra comprovar a realidade tão digital. A insistência dele (qualidade inata creio eu), me fez chegar mais perto. O lugar mais parecia uma fotografia daqueles quintais antigos, como ele mesmo disse. O clima não estava quente, era uma daquelas noites de primavera que se sente o cheiro gostoso das folhas novas e o vento que mais seria uma brisa suave.
Mas quem é ele afinal? Ele parece nervoso, fala bastante... É educado, gentil, meio sério eu acho, mas tem olhos brilhantes e um sorriso muito sincero, mesmo sorrindo só de vez em quando. Contou-me tanta coisa e eu ali parada olhando pra ele uma pessoa tão próxima, mas ao mesmo tempo tão desconhecida. E fiquei ouvindo aquela fala mansa, as palavras que saiam compassadamente entre um gole e outro de cerveja.
Um elogio veio então, que surpresa! Não esperava. Não era intenção, não havia pretensão num encontro que nem mesmo planejei. Afinal gosto de ser avisada das coisas e dessa vez não fui. E foi então que um beijo aconteceu e aquela boca que era então um lindo sorriso tornou-se num delicioso momento de satisfação e doçura. E agora? O que era tão digital ficou real diante de mim! Se não fosse sua insistência, nem aquele olhos brilhantes, nem a fala mansa, nem o beijo tímido, não existiria o sentimento de saudade que agora me invade. Saudade gostosa de um momento que estará pra sempre guardado na memória, de uma noite em que percebi que palavras e pensamentos viraram uma agradável surpresa.

Tuesday, February 06, 2007

Novitá



O ano novo começou cheio de novidades e mudanças. Uma das novidades é que finalmente resolvi criar meu blog e estou feliz em poder compartilhar com todos textos que me trazem muita alegria. Estou mudando de cidade, na verdade voltando para minha cidade de origem, com vontade de que muitas coisas boas aconteçam em 2007. Afinal. nasci no mês 7 e no dia 17, não é possível que com tanto 7 o meu ano novo não venha pelo menos com 7 coisas boas. Então pra começar um poema. Que na verdade é uma receita, espero que você use da melhor forma ou não.


Receita de Ano Novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo,
eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade